Ameaçando a paz vem a vitória

            Basta abrir qualquer jornal para se constatar que a situação no Oriente Médio e na África do Norte está piorando sem parar. É questão de Justiça dar a palavra àqueles que estão sendo ameaçados e não a seus aparentemente agressores. Vamos aos fatos.

            Segundo a Associated Press, recentemente citada pelo jornal libanês de língua inglesa The Daily Star, o Ministro do Exterior da Síria, Walid al-Muallim, resumiu a situação vista do lado a ser agredido em uma frase: “Tropas sauditas ou qualquer tropa estrangeira que entrar neste país [na Síria] voltará para casa em caixões de madeira”. E assegurou ainda que “avanços militares recentes colocaram este governo ‘nos trilhos’ para acabar com esta guerra civil de cinco anos”.

            A conferência de imprensa de al-Muallim aconteceu uma semana após o fracasso retumbante dos esforços das Nações Unidas para conversações de paz. Na verdade conversações indiretas entre a delegação oficial do governo sírio e os representantes da oposição. A iniciativa da ONU, na verdade inspirada pelos Estados Unidos, estava fadada mesmo ao malogro porque ninguém ignora que a parte legítima nas negociações só pode ser o governo sírio, assim como é evidente que ninguém sabe quem representa a soi-disant oposição. As forças que atuam contra o governo sírio, em sua grandessíssima maioria, não são de sírios e a nacionalidade dessas forças mercenárias talvez nem seus contratantes saibam quem são e de onde vêm. Na Síria se faz hoje igual ao que os Estados Unidos fizeram no Afeganistão e Iraque: angariar, armar financiar e dar apoio logístico a bandidos, malfeitores, condenados, assassinos de aluguel.

            O Enviado da ONU, Staffan de Mistura teve que adiar a reunião para negociações de paz devido a certas exigências da Oposição, só que a verdade é outra, ninguém sabe que é a tal agremiação oposicionista e sim que existem grupelhos que se arvoram como representantes do povo sírio são muitos e carecem de coordenação; além do fato alarmante que somente seus chefetes desacreditados e desprezíveis falam o árabe. Os Estados Unidos conhecem este tipo de gente, pois quando estavam ganhando a guerra suja no Iraque, também com ajuda de forças irregulares contratadas, havia dezenas de indivíduos que se diziam mandar e ter seguidores no Iraque e entre eles, até estava o antigo chefe de um banco jordaniano que havia roubado descaradamente todo o patrimônio do banco que presidia. Na Síria acontece o mesmo. Como os Estados Unidos não têm apoio legal e decente apoiam todo tipo que pessoas que se dizem mandar em algo dentro da Síria e este é o grupo que seria a oposição síria.

            Fracassadas as negociações houve uma advertência da Arábia Saudita afirmando estar pronta, em princípio, para enviar tropas terrestres para combater na Síria no contexto da campanha militar liderada pelos Estados Unidos contra os extremistas da Daish (Estado Islâmico) eu controlam consideráveis partes dos territórios da Síria e do Iraque.

            Voltando aqueles que se pretende atacar, além do próprio governo sírio, nem é necessário destacar o papel do Hizbullah que está em território sírio, aliado ao governo do país combatendo com heroísmo e, também, mostrando a Israel sua capacidade nos campos de batalha enviando reforço de tropas semana passada para a Síria.

            A Rússia, de seu lado – e o fato incomoda tremendamente os apoiadores da dita ‘oposição’ está dando crescente suporte ativo à Síria e somente esta última semana seus aviões de guerra atingiram 900 pontos de concentração de forças inimigas da Síria.

            O Ministro da Defesa da Rússia também declarou dias atrás que seu país tem bases razoáveis para suspeitar que a Turquia, outra apoiadora da oposição, está empreendendo preparativos intensivos para uma invasão da Síria ao lado de forças estadunidenses e sauditas.

            Não se pode deixar de mencionar a declaração do General Muhammad Ali Jafari, comandante da Guarda Revolucionária do Irã, poucos dias atrás, à Agência Fars afirmando que não acreditava que os sauditas eram “bravos o suficiente” para mandar tropas terrestres. “Eles falam grande”, disse Jafari, “Mas mesmo que isto aconteça não será de todo mal porque serão definitivamente derrotados”.

            Há quem esteja chutando a Paz a todo custo, as ameaças se repetem de lado a lado, a oposição acusa o governo de lançar uma ofensiva contra Aliou para não irem às negociações e de Mistura, o representante das Nações Unidas, apesar de fixar o dia 25 deste fevereiro para o início das negociações disse duvidar que as delegações voltem e, declarações à parte, parece mesmo que al-Muallim tem razão ao apontar que a guerra está perto do fim, como demonstram as vitórias das forças armadas regulares sírias apoiadas por seus aliados.

José Farhat

07/02/2016

Sobre José FARHAT

Formado em Ciências Políticas (USJ-Beirute) e Propaganda e Marketing (ESPM-São Paulo), tem cursos de extensão ou pós-graduação em: Comércio Exterior (FGV-São Paulo), Introdução à Teoria Política (PUC-São Paulo), Direito Internacional (PUC-SP) e cursou Filosofia no Collège Patriarcal Grec-Catholique (CPGC-Beirute). Domina os idiomas: Árabe, Francês, Inglês e Português e tem artigos publicados sobre Política Internacional, no Brasil e no Líbano. É ex-Diretor Executivo e atual Conselheiro do Conselho Superior de Administração da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; foi Superintendente de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e é seu atual membro do Conselho de Comércio Exterior e atual Diretor do Centro do Comércio do Estado de São Paulo. É ex-Presidente e atual Diretor de Relações Internacionais do Instituto da Cultura Árabe.
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3 respostas para Ameaçando a paz vem a vitória

  1. Ed Torres disse:

    Caro Farhat,

    Me explique uma coisa: o que seria a solução ideal para a Síria?
    É díficil entender este “mexidão” de forças que lutam contra o regime de Assad.
    Obrigado pelas informações que você sempre apresenta.

    • José FARHAT disse:

      Prezado Ed Torres,
      Venho repetindo desde muito tempo antes mesmo da eclosão da guerra civil, há cerca de cinco anos atrás, que a Síria desagradava e descontenta hoje ainda mais, principalmente por seu comportamento independente, a todas as potências estrangeiras que têm seus interesses contrariados na região.
      Já os países árabes, temem que uma Síria independente, socialista (ainda que à moda árabe) e laica é um perigo para seus próprios regimes retrógrados vistos sob qualquer tipo de lente.
      Os Estados Unidos jamais poderiam esperar da Síria uma aproximação – quanto mais uma aliança, com Israel à semelhança de Egito e Jordânia e isto contraria seus interesses regionais. As monarquias do Golfo Arábico consideram um perigo o tipo de regime sírio, principalmente por ser laico afastado da religião.
      A Turquia que chegou a ser exemplo de país muçulmano e democrático, hoje já não aprova o regime laico sírio e nem tampouco a política síria relacionada aos curdos.
      Neste clima, a Síria estava fadada a ser atacada de todos os lados, por vários razões e foi o que aconteceu.
      Uma solução para a Síria seria a Paz para que o atual regime sírio convoque uma constituinte e eleições livres, ambas supervisionadas por entidades/países neutros, o que aconteceria se não tivesse eclodido a rebelião fomentada do exterior.
      Esta é uma solução para a Síria e para o povo sírio, mas continuará não sendo uma solução para aqueles que fomentaram a guerra civil e devem ser retirados dos assuntos sírios ou voltaremos à Guerra após a Paz.

      • torresinc disse:

        Neste caso, uma solução para a crise Síria é praticamente impossível.
        Pessoalmente concord com o estado laico porque já está provado na história que, cada vez um estado é regido por leis religiosas, não somente o mesmo discrimina quem não abraça a religião de estado, os que desejam professar outras religiões ou até mesmo ignorar qualquer religião, é perseguido.
        Socialismo contraria interesses dos Estados Unidos e Europa, mas apoiar grupos radicais islâmicos a lutar contra o regime de Assad, é criar cobras para serem mordidos mais tarde: é só lembrar o que aconteceu com o Afeganistão sob o regime Talibã, contra o socialismo da então URSS.
        O apoio da Rússia não é claro para mim. Se que Putin não tem simpatias por fundamentalistas islâmicos porque sofre com os ataques eventuais no país. Mas socialismo já não é também um regime que ele contempla reintroduzir. Petróleo eles tem de sobra…
        Quanto à Israel, aí é mais complicado: a Golam, palestinos, Hezbolah etc.
        Estados Unidos deveria se retirar e cuidar da casa mas aí há os interesses dos Saudistas que conta com eles.

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