A Revolução dos Hipócritas

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, e hoje advogado, Joaquim Barbosa utilizou na segunda-feira, 18/04/2016, seu perfil no Twitter para desabafar sobre seu descontentamento com o teor dos votos dos deputados no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no domingo anterior. O ex-ministro não se manifestou a favor nem contra o impedimento da petista.

“É de chorar de vergonha! Simplesmente patético!”, continuou Barbosa. O comentário foi feito logo após criticar a imprensa brasileira e recomendar aos seus seguidores assistirem a entrevista de Glenn Greenwald à emissora de TV americana CNN e também lerem a matéria da revista britânica The Economist listando as justificativas dos deputados em seus votos pelo impedimento.

Ele não se manifestou a favor nem contra o impeachment da presidente.

Nos votos, na Câmara dos Deputados, a maioria dos parlamentares favoráveis ao afastamento de Dilma não fizeram nenhum comentário ou posicionamento sobre as pedaladas fiscais – manobras contábeis que embasam o pedido de impeachment – e utilizaram como justificativa seus próprios familiares, “deus”, “cristianismo”, “o fim da corrupção”, “a paz em Israel”, dentre outros motivos que surpreenderam até a imprensa internacionais, conforme seleção que citamos a seguir:

CNN: É incrivelmente flagrante o que está acontecendo no Brasil.

FORTUNE: Colocar o PMDB no governo é como limpar o chão com um pano sujo.

THE GUARDIAN: O impeachment de Dilma: um escândalo e uma tragédia

THE ECONOMIST: “Por Deus, pelo aniversário de minha avó, pela minha família”.

EL PAIS: Um Parlamento com momentos de Circo decide o futuro de Dilma.

DEL SPIEGEL: A Revolução dos Hipócritas. O Congresso revelou sua verdadeira face.

SICO NOTÍCIAS: Nunca vi o Brasil descer tão baixo. Uma assembleia de bandidos comandada por um bandido.

THE IRISH TIMES: Brasil envia os palhaços para votar no impeachment de Dilma.

Voltando ao Ministro Barbosa, ele continuou: “Anotem: teremos outras razões para sentir vergonha de nós mesmos em toda essa história”. No último domingo, 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados aprovou com 367 votos favoráveis, mais do que os 342 necessários, a continuidade do processo de impedimento de Dilma Rousseff, que agora está em análise no Senado. Se for aceito também no Senado, a presidente será afastada por 180 dias para ser julgada pelo Senado e, durante este período, o vice-presidente Michel Temer assume a Presidência.

Se ao final do processo o Congresso decidir pelo afastamento da petista, o vice peemdebista, eleito com a presidente e com os votos dela, segue como presidente até o final do mandato de Dilma, em 31 de dezembro de 2018, tempo suficiente para desfazer todas as vantagens que o povo brasileiro ultimamente lutou para conquistar.

Só que a maioria dos Deputados que ao votar usou o “santo nome de Deus em vão” e trouxe à baila filhos que ainda não nasceram e não mencionou as sogras, tenta esconder a verdade ululante: o sucessor de Dilma, Michel Temer, também cometeu os mesmos atos pelos quais querem que ela seja condenada. Assim também fizeram os antecessores de Dilma os quais, se assim é, deveriam também serem julgados. Os sucessores de Temer, se a farsa vencer são, como é a maioria daqueles que votaram contra Dilma, réus em processos vergonhosos que deveriam também ter andamento célere como tentam fazer com a atual presidente.

Temer antecipou declaração insossa, como é de seu feitio, à imprensa internacional na tentativa de abafar a declaração que ele e seus asseclas acreditavam que Dilma faria, comprometendo a imagem do país e da turma do sim ao golpe e da sucessão apressada. Mostrou a oposição seu primarismo em assuntos de relações internacionais tanto pela declaração antecipada quanto pelo envio de membros do Congresso Nacional para a sede das Nações Unidas, em Nova York, onde Dilma discursaria “para fazer contraponto à fala presidencial”. O discurso de Dilma, um primor em matéria de diplomacia, abordou o assunto que lhe competia sobre a responsabilidade do Brasil no projeto ambiental planetário e apenas referiu-se à difícil situação do Brasil afirmando que nosso país a superará através da avançada e sólida democracia. Por outro lado, os congressistas brasileiros não foram autorizados a entrar no recinto da reunião e aprenderam que a sede das Nações Unidas não é recinto vergonhoso tal qual aquele no qual Eduardo Cunha transformou a nossa Câmara dos Deputados, com a promoção de uma revolução hipócrita, como bem disse o DEL SPIEGEL.

José Farhat

22/04/2016

 

 

Sobre José FARHAT

Formado em Ciências Políticas (USJ-Beirute) e Propaganda e Marketing (ESPM-São Paulo), tem cursos de extensão ou pós-graduação em: Comércio Exterior (FGV-São Paulo), Introdução à Teoria Política (PUC-São Paulo), Direito Internacional (PUC-SP) e cursou Filosofia no Collège Patriarcal Grec-Catholique (CPGC-Beirute). Domina os idiomas: Árabe, Francês, Inglês e Português e tem artigos publicados sobre Política Internacional, no Brasil e no Líbano. É ex-Diretor Executivo e atual Conselheiro do Conselho Superior de Administração da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; foi Superintendente de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e é seu atual membro do Conselho de Comércio Exterior e atual Diretor do Centro do Comércio do Estado de São Paulo. É ex-Presidente e atual Diretor de Relações Internacionais do Instituto da Cultura Árabe.
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Uma resposta para A Revolução dos Hipócritas

  1. Tuaregue disse:

    Falar mais o que? Está tudo dito .

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