As omissões de Schvartzman e Ghivelder

por José Farhat

Ser jornalista torna o profissional escravo de sua profissão e o obriga a informar, e informar bem, dizer a verdade e não fingir que o faz publicando meias-verdades. Verdade Salomão Schvartzman e Zevi Ghivelder é como democracia ou é plena ou seu destino é o lixo.

Não tenho procuração para defender Mahmoud Abbas, mas tenho direito pleno de defender a verdade, em primeiro lugar, os leitores brasileiros que recebem informações falaciosas e, também, o povo palestino, seres humanos como eu.

O artigo que necessitou de dois jornalistas para ser produzido, intitulado “As omissões de Abbas” publicado no site da UOL precisa ser respondido.

Mahmoud Abbas e sua família e todas as famílias palestinas não foram à Europa Central ocupar as casas de judeus que lá moravam, muito pelo contrário, foi o movimento sionista que veio à Palestina e os expulsou de suas casas, quem fugiu, quando muito, chegou às tendas da Síria, do Líbano e outros países árabes. Quem hesitou foi morto e suas casas buldozeradas e sobre os escombros e as ossadas de crianças, mulheres e idosos, foram construídos assentamentos ilegais que perduram até hoje, enquanto os palestinos expulsos de suas terras e seus descendentes continuam morando nas tendas, que com o tempo se transformaram em favelas e, não contentes, os sionistas, como foi o caso dos acampamentos de Sabra e Chatilla, ocuparam o Líbano e protegeram e permitiram que milícias libanesas rivais dos palestinos massacrassem mais crianças, mulheres e idosos.

A maioria dos judeus que saiu dos países árabes foi atraída, isto sim, pela propaganda sionista e foi para a Palestina ocupada levada por promessas que só em parte foram realizadas e muitos deles acabaram saindo de Israel por não suportarem o tratamento racista que lá é dado aos judeus de origens não européias. Esta é a verdade. Falem com judeus libaneses que acabaram aqui no Brasil e eles lhes dirão a verdade. Um deles esteve no Líbano e encontrou a sua casa intacta, assim como a cerca de sua propriedade nas montanhas e pergunto: a família de Abbas poderá voltar a Safad e encontrar a sua casa intacta ou está ocupada como está ocupado o florescente laranjal da família Taha, de Haifa, que os israelenses vendem como “made in Israel” sem dizer no rótulo que a propriedade foi roubada de seus verdadeiros donos. Se quiserem, senhores escribas, dou-lhes nomes de centenas de aldeias palestinas que tiveram a mesma sorte da propriedade de Abbas e para cada uma dou o nome do assentamento sionista construído na propriedade alheia. Isto é verdade que pode ser provada.

Agora, que julguem os leitores: se um grupo de europeus veio para o Brasil, expulsou os moradores do Rio Grande do Sul e construiu sobre os escombros de suas casas assentamentos ilegais, alguém pode censurar um amazonense que se solidarize com os gaúchos e expulse do Amazonas os conterrâneos dos invasores dos pampas? Pois foi o que aconteceu em alguns casos de expulsão de judeus de terras árabes. Antes que passe adiante: é mentira que 1 milhão de judeus árabes emigrou voluntária ou forçosamente dos países árabes para Israel. Exagerar na invenção de casos e inflacionar números parece vir das escolas onde se formaram os escribas, e brasileiras essas escolas não são.

A mesma tática foi usada para exagerar dizendo que inúmeros países atacaram Israel diversas vezes. A verdade é outra: primeiro que os sionistas estavam muito mais preparados e armados para a guerra que todos os países que reagiram à ocupação da Palestina por alienígenas vindos de fora; segundo, que os ataques árabes eram uma reação de quem viu estrangeiros vir às suas terras, expulsarem seus habitantes e instalarem um estado em terra alheia. Mesmo a partilha da Palestina aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas foi desrespeitada e a liderança sionista ordenou, no dia seguinte à resolução, que as milícias terroristas sionistas ocupassem todas as terras possíveis, além da linha divisória e expulsassem todos os árabes das terras conquistadas. Isto, sem contar que a própria resolução é ilegal, pois a Assembléia Geral não tem poderes para dividir a terra de ninguém entre seus habitantes e pessoas que vieram de fora.

Alegar que os judeus sofreram com os crimes nazistas também não justifica, pois os palestinos não são responsáveis pelo sofrimento judeu e não podem pagar por algo que não fizeram.

Querem agora impedir que os palestinos peçam à Assembléia Geral das Nações Unidas, em setembro, que lhes reconheça o seu direito a um estado é, no mínimo, risível se é exatamente numa resolução da ONU que Israel baseou a instalação de um estado com uma diferença enorme e significativa: na terra dos outros e os palestinos querem estabelecer um estado na terra que é sua.

Os sionistas que procuram justificar seus crimes contra os palestinos, não os judeus israelenses que estão do lado dos palestinos e reconhecem que têm direito a um estado, grosseiramente distorcem os fatos para angariar apoio. Fiquem eles sabendo que os palestinos irão à ONU em setembro e já contam com mais de uma centena de países que reconhecem o seu estado e não adianta ficar falseando verdades, o Brasil não vai retirar seu reconhecimento do Estado Palestino e nem tampouco os demais e a cada dia o apoio à causa justa cresce.

José Farhat é cientista político

Sobre José FARHAT

Formado em Ciências Políticas (USJ-Beirute) e Propaganda e Marketing (ESPM-São Paulo), tem cursos de extensão ou pós-graduação em: Comércio Exterior (FGV-São Paulo), Introdução à Teoria Política (PUC-São Paulo), Direito Internacional (PUC-SP) e cursou Filosofia no Collège Patriarcal Grec-Catholique (CPGC-Beirute). Domina os idiomas: Árabe, Francês, Inglês e Português e tem artigos publicados sobre Política Internacional, no Brasil e no Líbano. É ex-Diretor Executivo e atual Conselheiro do Conselho Superior de Administração da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; foi Superintendente de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e é seu atual membro do Conselho de Comércio Exterior e atual Diretor do Centro do Comércio do Estado de São Paulo. É ex-Presidente e atual Diretor de Relações Internacionais do Instituto da Cultura Árabe.
Esse post foi publicado em Assuntos palestinos, Falácias em torno de Israel e do Sionismo. Bookmark o link permanente.

2 respostas para As omissões de Schvartzman e Ghivelder

  1. Este é um debate permanentemente necessário. Uma solução para tal conflito e o reconhecimento de um Estado Palestino são possíveis? A paz entre judeus e palestinos ou entre os governos de Israel e as autoridades palestinas é alcançável? Oxalá que sim.

    • José FARHAT disse:

      Ocinei Trindade,
      Esta é, de fato, uma questão que não pode parar e tem que ir até o fim, pois há dois povos envolvidos e cada um tem direitos que os limita tão somente os direitos do outro. O fim é a Paz e nada mais. Hoje mesmo temos um exemplo daquilo que pode ser procurado e obtido através de negociações honestas. Esperemos que do Cairo saia uma solução para a Palestina ocidental (Gaza), o que irá facilitar a negociação sobre a Palestina oriental.

Deixe um comentário